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A Peça da Coroação
Para
comemorar a ascensão de D. Pedro I ao trono imperial, cunhou-se
a moeda de ouro de 6.400 réis, que ficou conhecida como a "Peça da
Coroação" e é considerada até hoje, uma das mais raras e
valiosas da numismática brasileira.
Foram produzidos 64 exemplares, cunho assinado pelos
gravadores Zeferino Ferrez (anverso) e Thomé Joaquim da Silva Veiga (reverso)
e fabricados pela Casa da Moeda do Rio de
Janeiro.
Essas moedas não chegaram a circular efetivamente, tendo sido a cunhagem
suspensa por D. Pedro I, a quem desgostou o fato de nelas aparecer
representado de busto nu, à feição dos imperadores romanos; e o
de figurar a coroa real diamantina (ornada com pedras preciosas ou
pérolas justapostas, símbolo do poder real), em vez da imperial
(designativa do título). Bem como ter havido a omissão da
palavra CONSTITUCIONALIS e do complemento ET PERPETUUS BRASILIAE
DEFENSOR, o que podia pressupor um desejo do poder absolutista.
História
A moeda mais preciosa da nossa numismática – um exemplar que pode valer quase
meio milhão de dólares – é o resultado de uma série de trapalhadas e mal-entendidos.
Em 1821, Dom João VI partiu com a corte de volta a Portugal. Levou com ele baús repletos de ouro retirado das casas de cunhagem do Brasil. Em 7 de setembro do ano seguinte, Pedro I proclamou a Independência do País. Para a cerimônia de coroação do novo imperador, a Casa da Moeda do Rio de Janeiro produziu peças comemorativas com o pouquíssimo ouro que restara. Foi possível cunhar apenas 64 exemplares da moeda, conhecida como Peça da Coroação.
Como o prazo era exíguo, Pedro I não teve tempo de aprovar as moedas. Só as recebeu na própria cerimônia. E não gostou nem um pouco do que viu: sua imagem no anverso da moeda foi retratada pelo artista Zeferino Ferrez à semelhança dos imperadores romanos, com o busto nu e uma coroa de louros. Para Pedro I, a imagem passava a idéia de um déspota, oposta à que ele desejava. Como se não fosse o bastante, o cunhador do reverso da moeda, Thomé Joaquim da Silva Veiga, também tomou “liberdades artísticas” ao incluir a frase
IN HOC SIGNO VINCES dentro do brasão imperial.
Hoje existem apenas 16 exemplares conhecidos da Peça da Coroação original, em acervos de museus e de colecionadores.
Medalha, Ensaio ou Moeda?
Dada a situação peculiar do fato histórico, muito se
especulou no que realmente se trataria essa preciosidade. Poderia
realmente ser considerada uma moeda? Ou teria sido uma medalha ou
mesmo um mero ensaio?
Para discussão, é conveniente definir cada uma dessas
categorias e tentar classificar mais precisamente a peça da
Coroação.
Medalha – Geralmente de metal, multiplicada
uniformemente, sem valor preciso, e sem reunir os caracteres
conhecidos e determinados pelo título, peso e tipos. Destinam-se
quase sempre a comemorações de acontecimentos ou personagens.
A rigor, de medalha, a peça em estudo tem apenas o material de
que é feita e a multiplicação uniforme. Porém, afasta-se dessa
categoria o "sem reunir os caracteres conhecidos e
determinados pelo título, peso e tipos" pois a peça está
filiada ao sistema monetário anterior à Independência e que
vigorou, no Brasil, até 1833. Afasta-se, também, o
"destinam-se quase sempre a comemorações de acontecimentos
ou personagens". Mesmo tendo sido produzidas na comemoração
da Independência e sendo clara a ideia de homenagear D. Pedro,
não há nada expresso a respeito gravado no objeto.
Além disso, apresenta serrilha, que é sem dúvida uma das
mais fortes características da moeda. A medalha, salvo raras
exceções, distingue-se ainda da moeda pelo módulo, geralmente
maior, e pelos metais inferiores de que é feita – prata ou
bronze, quando sendo os exemplares em ouro, quase sempre, peças
únicas. Nesse caso, todas as peças são de ouro.
A medalha comemora um fato qualquer. A moeda cumpre uma
função econômica. É nesse ponto que as duas categorias mais se
distinguem.
Ensaio
– É a peça, metálica ou não, que serve de modelo para
novas moedas, podendo ser ou não aprovado.
Se era um ensaio, esse ensaio não serviu de modelo às peças
que se cunharam a partir de 1823, uma vez que o tipo destas
difere dele profundamente.
Acontece, ainda, que a peça da coroação teve, ela mesma, o
seu próprio ensaio. O que mais se encaixa é que os 6400 de 1822R
foi uma moeda provisória, de pequena tiragem, e da qual se
fizeram ensaios e que, por não reunir em seu tipo certas
condições julgadas importantes ao tipo monetário nacional
brasileiro, foi substituída por outra completamente diferente.
Moeda - Peça de metal multiplicada uniformemente, em
grande número e trazendo impressões semelhantes, determinando
real ou ficticiamente o seu valor. Serve de meio universal de
troca contra todos os outros valores. A moeda deve,
necessariamente, reunir três características determinantes,
uniformes e conhecidas: título, peso e tipo.
Documentadamente, a “Peça da Coroação” circulou (ou
girou) e somente este fato já seria suficiente para não
classificá-la entre as medalhas e ensaios. Existe um texto
legal, o decreto imperial de 19 de novembro de 1822, no qual o
ministro Martim Francisco ordena ao Tesoureiro Mor a entrega ao
Monsenhor Fidalgo, Inspetor da Capela Imperial, a quantia de
403.200 réis em 63 peças de 6.400 réis, com a efígie Imperial, para
a oferta no dia da coroação.
Ela poderia ser enquadrada na classe das moedas comemorativas
(ainda moeda) mas,
apenas por convenção e não tecnicamente. Isso se for levado em
consideração a informação de Azeredo Coutinho, que por sua vez
se baseou na expressão do provedor Fonseca Costa, de que as 64
peças cunhadas o foram “para o dia da Coroação”.
Fonte: "História da Moeda",
Banco do Brasil
"A Peça da Coroação", Sociedade Numismática
Brasileira, Hans Kochmann
16 peças conhecidas
Das 64 peças produzidas, tem-se conhecimento somente de 16
exemplares espalhadas em coleções pelo Brasil mas, também, pelo
mundo afora.
- Museu de Valores do Banco Central do Brasil
(Brasília-Brasil)
1926 Leilão Jacques Schulman
(Amsterdã-Holanda), lote 328
- Museu de Valores do Banco Central do Brasil
(Brasília-Brasil)
- Museu do Banco do Brasil (Rio de Janeiro-Brasil)
- Museu do Banco Itaú (São Paulo-Brasil)
ex Coleção J B Moura (?)
- Museu Histórico Nacional (Rio de Janeiro-Brasil)
ex Biblioteca Nacional
- Coleção SP1/SP
- Coleção SP1/SP
- Coleção SP1/SP
ex Coleção R Pagliari (?)
1986 Leilão Spink (Nova Iorque-EUA),
lote 316, R Pagliari -> ?
- Coleção SP2/SP
ex Coleção Julius Meili (Zurique-Suiça)
ex Museu Nacional (Zurique-Suiça)
- Coleção Dr. Roberto Villela Lemos Monteiro (São
Paulo-Brasil)
1909 Coleção Augusto de Souza Lobo
(Rio de Janeiro-Brasil)
194? Coleção Guilherme Guinle (Rio
de Janeiro-Brasil)
1986 Coleção Dr. Roberto Villela
Lemos Monteiro (São Paulo-Brasil)
2014 Leilão Heritage (Nova
Iorque-EUA), lote 23072 -> vendida p/ quem?
- Coleção SP4/SP
ex Coleção R H Norweb (?)
1997 Leilão Spink (Nova Iorque-EUA),
lote 1068, R H Norweb -> ?
- Coleção RJ1/RJ
- Coleção BA1/BA
- Coleção Museu Numismático Português (Lisboa-Portugal)
- Coleção em Lisboa (Lisboa-Portugal)
- Coleção Louis E. Eliasberg (Baltimore-EUA)
1908 Coleção Alves de Araújo
Ramos (BA-Brasil)
1909 (ou 1910?) Leilão Jacques
Schulman (Amsterdã-Holanda),
lote 2048, A. A. Ramos -> não
vendida
1916 Coleção Harry F. Williams
(EUA)
1918 Coleção Waldo C. Newcomer
(Nova Iorque-EUA)
1935 Leilão J. C. Morgenthau (Nova
Iorque-EUA), lote 129,
W. C. Newcomer -> J. H. Clapp
1935 Coleção John H. Clapp (EUA)
1945 (ou 1942?) Coleção Louis E.
Eliasberg (Baltimore-EUA)
2005 Leilão ANR-American Numismatic
Rarities/Spink (Nova Iorque-EUA),
lote 1262, L. E. Eliasberg
-> não vendida
2012 Leilão Heritage (Nova
Iorque-EUA), lote 23733 -> vendida p/ quem?
Fonte: CFNT - Clube Filatélico e Numismático de Taquara/RS
Colaboraram Rodrigo Leite e Victor Brasil do Fórum de Numismática
Posição em 2014
Leilão recorde
A casa de leilão Heritage Auctions bateu o recorde
próprio de valor, leiloando uma das nossas conhecidas peças da
Coroação. O leilão aconteceu no dia 5 de janeiro de 2014,
em Nova Iorque, e atingiu o valor de US$ 499.375. Segue a
notícia do feito alcançado:
Moeda brasileira da coroação de D. Pedro I, 6400 réis,
estabelece recorde mundial de preço no NYINC
Imagem da "Peça da Coroação" leiloada pelo Heritage Auctions.
As cores são autênticas.
Uma deslumbrante e antiga moeda de ouro de 1822, D. Pedro
I, 6400 réis, AU55 NGC, atingiu a marca de 499.375 dólares
nesse 5 de janeiro, liderando o $15 million World &
Ancient Coin Signature Auction, do Heritage Auctions,
realizada no Waldorf-Astoria, como parte da Convenção
Numismática Internacional de Nova Iorque (NYINC). O valor
inclui todos as despesas da operação.
"Este foi um leilão incrível", disse Cristiano
Bierrenbach, vice-presidente da Heritage Auctions. "Houve
tanto interesse de todo o mundo, e tantos colecionadores
interessados na licitação, que tínhamos um sentimento de
que algo especial estava para acontecer".
A "Peça da coroação", como é conhecida, mais
do que duplicou a sua estimativa pré-leilão de US$ 200.000,
e quase terminou com lance na casa de meio milhão de
dólares, estabelecendo um recorde mundial de preço realizado
por uma moeda brasileira.
"Para os brasileiros, D. Pedro I é um dos líderes
mais importante desde a criação do país", disse
Bierrenbach, "e, para os numismatas brasileiros, não há
moeda mais desejável do que esta autêntica peça, e esta
peça em questão é a melhor disponível. Este preço recorde
é bem justificado".
Dados do Leilão
2014 January 5 - 6 World & Ancient Coin Signature
Auction - New York #3030
5 a 6 de janeiro de 2014
Leilão #3030
Leilão de assinatura de moedas mundiais e antigas - Nova
Iorque
Brazil: Pedro I gold 6400 Reis 1822-R, ...
Lote #23072
Brasil: Pedro I ouro 6400 Reis 1822-R, KM361, Russo- 592, AU55
NGC
Local: Waldorf Astoria - Norse Suite 301 Park Avenue, New
York, NY 10022
Descrição:
A Peça da Coroação de D. Pedro I
Pedro I ouro 6400 Reis 1822-R, KM361, Russo-
592, AU55 NGC. Linda pátina laranja e magenta profunda. Em
excelente condição para o modelo. Sua procedência remonta
105 anos vindo da coleção do lendário numismata brasileiro
Augusto Souza Lobo. Na década de 1940, foi parte da coleção
do magnata brasileiro Guilherme Guinle e adquirida pelo Dr.
Monteiro, em 1986. Em seu livro, ele cita a peça como "a
flor encantador no jardim das artes numismáticas
brasileira".
O 6400 réis de 1822 foi a primeira moeda
cunhada no Brasil independente, proclamando seu primeiro
imperador, D. Pedro I do Brasil. No dia 7 de setembro do mesmo
ano, nas margens do rio Ipiranga, no que é hoje a cidade de
São Paulo, onde bradou "Independência ou Morte".
Pedro tinha recebido ordens de seu pai para voltar a Lisboa e
confirmar sua lealdade à Coroa Portuguesa mas, desafiou a
ordem de seu pai e ficou.
No dia 1º. de dezembro, Pedro foi coroado
imperador na igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo, no Rio
de Janeiro. A concepção e execução mostra a brevidade do
tempo que o gravador-cunhador carioca Zeferino Ferrez teve
para concluir o projeto: é a coroa real que aparece sobre o
escudo nacional onde deveria ser a nova coroa imperial. Um
total de 64 peças foram cunhadas e foram oferecidas para
dignitários no dia da coroação. O numismata Claudio
Schroeder contabiliza a existência atual de 16 peças. Sete
estão em museus no Brasil e Portugal, deixando nove
espécimes em mãos privadas. Apenas duas peças trocou de
mãos nos últimos 27 anos: a peça Norweb, em 1997, que
atingiu mais de US$ 80.000 e o espécime Eliasberg, uma moeda
MBC que realizou US$ 69.000, em 2005. Na sequência, o
Heritage vendeu a peça Eliasberg por 138 mil dólares, em
abril de 2012.
fonte: Heritage Auctions -
ha.com; tradução livre de Eduardo Rezende
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